O 25 DE ABRIL EXISTIU MESMO?

o filme "Capitães de Abril" documenta esse "breve momento" de Liberdade em Portugal

Era eu uma inocente criança, quando se deu o 25 de Abril. Lembro-me de andar de mão dada com o meu pai, junto dos meus irmãos e da minha mãe. Toda a gente saia à rua. Todos queriam saber o que se passava e perceber qual o seu destino e o seu futuro. Gritavam-se palavras de liberdade, palavras de ordem em favor do povo oprimido pela ingestão económica e social a que o país tinha chegado. Eu era uma criança, apenas via as pernas das pessoas aglomeradas e eram muitas… Lembro-me do desfile de tanques e carros militares, das canções alentejanas, do “Grândola Vila Morena”, do grito “O Povo Unido jamais será vencido”, dos “V’s” de vitória seguidos, empunhados pela mão de cada manifestante. Sentia um misto de medo, de algum descontrole do povo, mas a segurança da mão do meu pai dava-me tranquilidade. Sabia que estava seguro desde que estivesse com ele.

Mas tudo isso passou. Vieram os partidos políticos, a república “verdadeira” e com ela, aos poucos, o esquecimento dos tempos difíceis. Hoje, passados 34 anos, por mais desfiles e celebrações que se façam nesse dia de liberdade, o seu significado perdeu-se. Os mesmos políticos que participam nas celebrações já não respeitam os verdadeiros princípios de liberdade e respeito social manifestados na altura. O 25 de Abril, hoje, cheira a falso. A mesma falsidade denunciada na inconsistente e insegura manobra militar que esteve, a medo, na base da “revolução dos cravos”. Poucas pessoas morreram, o que para uma revolução social é deveras estranho. Mas as condições sociais foram progressivamente melhorando. Com a adesão à União Europeia, os receios vieram e com eles os largos subsídios, manipulados ”democraticamente” por alguns barões. Uma nova classe surgia: os subsídio-dependentes, as máfias políticas encapotadas, os negócios de empresas feitas à pressa, os conhecimentos “vendidos” a apenas alguns, o tráfico de influências, as “cunhas” para os subsídios… a União lançara no seio da liberdade um Cavalo de Tróia: a promessa de um mundo melhor, uma união económica europeia que nos lançaria de vez no mercado internacional. Esta é uma falsidade semelhante à denunciada subtilmente no filme “Capitães de Abril”, uma falsidade tão suavemente portuguesa, que nos leva hoje a perguntar: o 25 de Abril existiu mesmo?...

Os desfiles de pessoas que se juntavam na Alameda Afonso Henriques e no Marquês de Pombal, na Praça do Comércio, no Areeiro, de onde desciam avenida abaixo até aos Restauradores e ao Rossio. O mesmo Areeiro, onde agora “jaz” a cabeça “cortada” de Francisco Sá Carneiro, a meio caminho do aeroporto onde foi assassinado, numa escultura sádica, em que a sua cabeça mais parece uma bola de golfe colocada junto a vários tacos alinhados (a formar as curvas ascendentes das “setas” do PSD), como que a dizer: esqueceste-te do que aconteceu aqui nesta praça, a luta pela igualdade e pelos direitos de TODOS os portugueses… Afinal de contas, TUDO se esquece, porque os portugueses sofrem de memória curta, e de uma grande concentração de MÁFIAS por metro quadrado…